quarta-feira, 1 de agosto de 2012

E depois acordamos

A noite acorda em alvoroço com um estrondo longinquo. Levanto-me assustado, o coração palpita, abro a janela apressado, o ar queimado custa a inalar. Vejo o clarão quente no céu e fecho os olhos que me ardem. Vou para o meio da rua, onde o silêncio impera, contrariado o palpitar do meu peito. Corro numa estrada, onde à volta é apenas campo. Corro sem parar. As pernas movem-se contra o meu desejo. O suor escorre. A respiração ofegante sincrona com o bater do coração, não consigo olhar em frente, o clarão ao fundo encadeia. Os musculos começam a ceder, mas as pernas não páram. A dor fulminante no peito, enquanto atravesso o asfalto quente, faz-me deseperar. O céu cada vez mais laranja, será o amanhecer ou algo pior, uma chama incessante para a qual me dirijo? Ao fundo vejo uma ponte em destroços, acelero com o pulsar maior nas minhas veias. Estás tu com o teu vestido branco e o cabelo vai esvoaçando. Não te importas com os destroços ou o fogo, a tua calma contraria o mundo. Estou prestes a chegar a ti, mas tu deixas-te cair. O sufoco, mata a minha voz. Caio de joelhos no chão e olho para onde estavas. Um trovão cai e atravessa-me as costas como uma espada. Mas não sinto dor. Inclino a cabeça para o céu de onde vão caindo as primeiras gotas, que me escorrem na cara como lágrimas silênciadas. Fecho os olhos, abro. A luz dos estores bate-me na cara, estou suado. Olho para o lado e oiço o teu riso e delicio-me com os teus olhos ensonados. Mas não estás lá. A almofada está vazia, apenas guarda o teu perfume. Levanto-me, vou para a janela olhar pela manhã.