sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Estação

 Pouco passa das 12:40, chego á plataforma de onde vais partir. O burburinho das conversas com que me cruzo e a frenética orquestra de combóios e avisos femininos das colunas irrita-me, não me consigo concentrar. Passo pela multidão com custo, nem o peso da minha mala ajuda. Páro e olho para o comboio parado na linha 2, espreito lá para dentro, como uma criança espreita pela montra de uma qualquer loja de brinquedos. Será este no qual te verei partir?! Não, este segue um outro destino, e além disso o teu comboio é na linha 1. "...omboio linha 1." Merda falaram da linha 1 e não percebi. Tantos parolos aqui a falar, não conseguem manter um tom sereno... Niguém quer saber da vidinha deles, só te quero ver partir. Vai custar eu sei, mas pelo bem de nós terá de acontecer, ou seria a nossa ruína. Vejo um comboio chegar, será o meu?! Está ali uma rapariga sozinha, calção curto, top preto, alta e magra, cabelo longo e loiro, enfim mais do mesmo, superficial. Dirijo-me a ela, que me olha e esboça um sorriso. " - Desculpa, sabes-me dizer para onde este comboio vai? - Sim, vai até à Covilhã. - Obrigado". Mas porque raio tem ela de olhar para a linha antes de me responder? Será que o comboio faz sinais luminosos para ela? Fumo já não deita. Tiro a carteira do bolso de trás das minhas calças, confirmo a carruagem e lugar, 23 - 56. Olho em volta nervoso, estás quase quase a partir. Guardo a carteira e tiro o telemóvel, nem uma única chamada. O comboio para com a carruagem 23 mesmo á minha frente. Está quase, quase, mas no fundo não quero. Todas aquelas pessoas espezinham-se para entrar ou para se despedir, não compreendo, há lugares marcados, para quê tanta pressa? Volto a olhar em volta ansioso por te ver partir. A plataforma fica mais vazia e o comboio cada vez mais cheio. Faltam 2 minutos para a viagem começar e tu ainda não foste embora. Entro no comboio arrumo a mala por cima do lugar olho em volta e vejo uma horrivel criancinha incitada pelos avós a babar-se num vidro asqueroso de modo a poder mandar beijos aos pais... Horrível! Sento-me no lugar, o barulho dos avós e da criança a rirem-se e a despedirem-se de umas pessoas que não os conseguem ouvir deixa-me numa pilha de nervos. Fecho os olhos e tento abstrair-me. Mergulho num sonho. Quando acordar espero já não te voltar a ver... Velho eu!

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